Quando eu era criança, eu queria ser ninja. Não astronauta. Não bombeiro. Nem super-herói. Ninja. Outras coisas certamente cruzaram minha mente naquela época, mas eu me lembro exatamente do momento em que senti o chamado. Estava assistindo o filme American Ninja e constatei: “Existe ninja loiro!" Não, eu não sou loiro, mas isso destruiu a regra da minha inocente consciência de que só asiáticos poderiam ser ninjas. E foi isso. Quando os créditos subiram, eu estava em êxtase. Estava pronto. E já que eu ia ser um ninja, precisava agir imediatamente.
Passei alguns segundos com os olhos girando pela sala, procurando uma ideia que fosse brilhante. E ela apareceu. E era perfeita. Levantei do sofá com um salto que faria inveja em qualquer ninja. Atravessei a sala, desviando dos móveis como se fossem obstáculos mortais. "O silêncio é minha arma.” Cheguei rapidamente na cozinha e abri a geladeira com a precisão de um mestre. O alvo? Um ovo.
Com uma colherzinha, fiz um pequeno furo no ovo. Cautelosamente, despejei todo o conteúdo no lixo, pois o que me interessava era a casca, oca e intacta, preparada pra atender a um propósito muito maior do que armazenar proteínas e colesterol.
O próximo passo foi pegar o pote laranja onde minha mãe guardava farinha. Meti a mão e tentei, com a habilidade de um ninja, encher o ovo. É muito mais fácil sujar todo o chão todo do que colocar o mínimo de farinha dentro de um ovo. Mas depois de uma árdua batalha contra as leis da física, o ovo finalmente ficou cheio o suficiente. Fechei o buraco com durex. O coração acelerou. A barriga gelou. Estava tudo pronto.
Fui pra rua e encontrei os meninos jogando bola. Gritei pra que viessem ver o que eu tinha e reuni uma pequena plateia de curiosos. Eles olhavam, desconfiados. Mas algo no meu olhar os mantinha lá. Pedi que abrissem uma roda. Levantei o braço bem alto e, com toda a força que um magrelo conseguia reunir, atirei o ovo no chão.
Na minha cabeça, aquilo seria uma incrível bomba de fumaça. Uma coisa gloriosa pra marcar o momento em que eu me transformaria no ninja que estava destinado a ser.
Mas a realidade foi outra. O ovo se espatifou. A farinha se espalhou pelo chão de forma patética. O som? Um miserável “pófff”. Todos se olharam. Deram de ombros e voltaram correndo para a bola de capotão, porque perder mais tempo com aquilo seria um desperdício.
Mas eu ainda fiquei ali. Parado. Olhando para o que sobrou: casca quebrada, rastro de farinha e um pedaço de durex balançando no vento.
E ali, naquele momento, eu soube que precisaria de um plano B para o meu futuro.
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When I was a kid, I wanted to be a ninja. Not an astronaut. Not a firefighter. Not a superhero. A ninja. Other things must have crossed my mind back then, but I remember exactly the moment I felt the calling. I was watching the movie American Ninja and realized: ”There are blond ninjas!” No, I’m not blond, but that shattered the rule in my innocent mind that only asians could be ninjas. And that was it. When the credits rolled, I was ecstatic. I was ready. And since I was going to be a ninja, I needed to act immediately.
I spent a few seconds with my eyes darting around the room, looking for a brilliant idea. And then it appeared. And it was perfect. I jumped up from the couch with a leap that would make any ninja jealous. I crossed the room, dodging the furniture as if they were deadly obstacles. “Silence is my weapon.” I quickly reached the kitchen and opened the fridge with the precision of a master. The target? An egg.
With a tiny spoon, I carefully poked a hole at the top of the egg. Cautiously, I poured all the contents into the trash because what interested me was the shell, hollow and intact, prepared to serve a far greater purpose than holding protein and cholesterol.
The next step was to grab the orange container where my mom kept the flour. I plunged my hand in and, with ninja-like skill, tried to fill the egg. It’s much easier to cover the entire floor than to get a bit of flour into an egg. But after a tough battle against the laws of physics, the egg was finally full enough. I sealed the hole with tape. My heart raced. Butterflies in my stomach. Everything was ready.
I went outside and found the boys playing soccer. I yelled for them to come see what I had, and gathered a small crowd of curious onlookers. They were suspicious, but something in my gaze kept them there. I asked them to form a circle. I raised my arm high, and with all the strength a skinny kid could muster, I threw the egg to the ground.
In my mind, it was going to be an incredible smoke bomb. Something glorious to mark the moment I’d transform into the ninja I was destined to be.
But reality was different. The egg shattered. The flour scattered across the ground in a pathetic mess. The sound? A miserable 'pof.' Everyone looked at each other, shrugged, and ran back to the soccer ball because wasting more time on that would be pointless.
But I stayed there. Standing still. Staring at what was left: broken shell, traces of flour, and a piece of tape fluttering in the wind.
And there, in that moment, I knew I’d need a plan B for my future.
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